Dificuldade ou Transtorno de Aprendizagem: Entendendo por que seu filho não está aprendendo

Estudos apontam que entre 15% e 20% das crianças em idade escolar apresentam dificuldades de aprendizagem, o que inclui uma gama de desafios como dislexia, transtornos de atenção, e outras dificuldades específicas relacionadas ao desempenho acadêmico (Mousinho & Navas, 2016; American Psychiatric Association, 2014). Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (2020), quando ampliamos o olhar para as dificuldades gerais enfrentadas nos primeiros anos da educação formal, esse percentual pode chegar a até 50%, considerando fatores como questões emocionais, falta de estímulos adequados no ambiente familiar e escolar, além de barreiras socioeconômicas que afetam diretamente o desempenho escolar.

A Importância da Avaliação e Intervenção Precoce

O início da escolarização é uma fase crítica. Durante esse período, é possível observar como o cérebro da criança responde aos estímulos educacionais e sociais. Intervenções adequadas podem fazer a diferença entre uma criança que supera uma dificuldade temporária e outra que desenvolve um transtorno de aprendizagem persistente. Segundo estudos de neurociência, o cérebro infantil é altamente plástico, e intervenções precoces e bem-estruturadas podem reconfigurar padrões de aprendizagem e promover o desenvolvimento saudável (Diamond, 2013).

Diferença entre Dificuldade e Transtorno de Aprendizagem

Para diferenciar uma dificuldade de aprendizagem de um transtorno, é necessário um olhar cuidadoso e multifacetado:

  • Dificuldade de Aprendizagem: Pode ser transitória e se manifestar como uma resposta a desafios emocionais, cognitivos ou sociais. Por exemplo, crianças que enfrentam estresse familiar ou não têm acesso a materiais educativos adequados podem demonstrar dificuldades temporárias que são reversíveis com suporte adequado.
  • Transtorno de Aprendizagem: Tem um componente biológico claro e está relacionado a disfunções neurológicas específicas. Estudos de imagem cerebral indicam que crianças com dislexia, por exemplo, apresentam padrões de ativação cerebral distintos daqueles sem o transtorno durante atividades de leitura (Shaywitz et al., 2002). Esses transtornos requerem intervenções especializadas e individualizadas, que podem incluir apoio psicopedagógico, neuropsicológico e estratégias pedagógicas específicas.

Investigando a Causa das Dificuldades

Ao observar dificuldades de aprendizagem, é imprescindível levantar o histórico da criança e examinar fatores como:

  • Atraso na fala
  • Problemas de coordenação motora fina e global
  • Nível de atenção e capacidade de concentração
  • Compreensão de ordens e capacidade de seguir instruções complexas
  • Funcionamento da memória de trabalho e memória de longo prazo

Além disso, é essencial entender o contexto familiar e social da criança. Crianças que vivem em ambientes com altos níveis de estresse ou que não possuem uma rotina adequada de sono e alimentação, por exemplo, podem ter seu aprendizado afetado negativamente (Porges, 2011). A relação entre fatores genéticos e dificuldades também é fundamental, já que o histórico familiar de transtornos pode indicar um risco aumentado.

Modelo de Resposta à Intervenção (RTI)

O RTI é uma abordagem baseada em evidências que permite intervenções graduais, acompanhando a evolução do aluno e ajustando as estratégias conforme necessário. Estudos indicam que intervenções pedagógicas de qualidade, combinadas com técnicas de apoio emocional e cognitivo, têm um impacto positivo na reconfiguração de padrões de aprendizagem e na redução de dificuldades que poderiam se tornar transtornos (Fuchs & Fuchs, 2006).

O RTI segue etapas específicas, com duração mínima de três meses. Durante esse período, o aluno é exposto a práticas pedagógicas específicas e ajustadas às suas necessidades, com avaliações periódicas para monitorar o progresso. Caso as dificuldades persistam, o próximo passo é um encaminhamento para uma avaliação mais detalhada, visando identificar um possível transtorno de aprendizagem.

Referências 

  1. Mousinho, R.; Navas, A. L. – Para embasar a diferenciação entre dificuldade e transtorno de aprendizagem.
  2. American Psychiatric Association (DSM-5) – Como base para definições e classificações oficiais.
  3. Shaywitz et al. (2002) – Para sustentar as evidências neurobiológicas relacionadas aos transtornos.
  4. Fuchs & Fuchs (2006) – Como suporte para o modelo RTI.